quarta-feira, 16 de abril de 2008
Design não é mesmo o forte do carro da Renault, a começar dos faróis
Nada disso: as vendas do Logan só têm crescido. Hoje ele detém praticamente 10% do segmento de sedãs pequenos (onde é colocado pela Fenabrave, a federação dos distribuidores) e fechou março como o 16º carro de passeio mais vendido do país (3.160 unidades; no ano, são 8.577). Junto com seu irmão hatch, o Sandero, foi decisivo para a Renault tornar-se a quinta maior montadora do mercado na categoria de automóveis. O carros rádicais oi conferir de perto a valentia (e o valor) desse sedã. Rodou com um Logan Privilège equipado com o motor Hi-Torque 1.6 8V, intermediário na gama que inclui ainda os propulsores Hi-Flex 1.0 16V e Hi-Torque 1.6 8V (o acabamento é o top, acima do Authentique e do Expression). Detalhe: de acordo com o número do chassi, o exemplar avaliado foi incluído no recall de dezembro. O preço é de R$ 40.090, e vai a R$ 40.940 com pintura metálica. Não há opcionais.
O maior apelo do Logan é ele supostamente tratar-se de uma opção de compra racional, vale dizer, de bom custo/benefício, especialmente pelo espaço interno e desempenho compatíveis com os de um sedã médio (o qual custaria pelo menos R$ 15 mil a mais). Além disso, há a garantia de três anos e a promessa de manutenção a menos de R$ 1 por dia.
O trem de força do Logan 1.6 8V é mesmo muito bom. Ele gera potência de 92 cavalos com gasolina e 95 com álcool (combustível com o qual foi avaliado), e torque de 13,7 kgfm (gasolina) e 14,1 kgfm (álcool), números que ficam mais interessantes porque essa força surge já a 2.850 rpm. O gerenciamento é feito por um câmbio manual de cinco velocidades de curso confortável e engates precisos.
Vai que vai
Na cidade, devido ao torque chegar bem cedo, é um conjunto que agrada -- e que, quanto à performance, sobra. O Logan só fica atrás dos outros carros se o motorista quiser. E na estrada chega a surpreender: mal-acostumado com equipamentos como piloto automático e limitador de velocidade (indisponíveis no Logan), Carros Rádicais tomou um susto ao ver, de repente, o ponteiro nos 140 km/h. O Logan chegou a essa velocidade com absoluta naturalidade, nenhuma vibração e -- ao contrário do que muita gente escreveu -- um nível bem aceitável de ruído, inclusive do vento. A máxima, segundo a Renault, é de 173 km/h e 175 km/h (gasolina/álcool).
A suspensão, claramente, privilegia o conforto, e em pisos regulares o Logan deita e rola. Mas a maciez do conjunto faz com que pisos ondulados sejam muito sentidos no habitáculo. E os bancos em tecido são muito moles, o que agrava essa sensação.
Mas esses mesmos bancos, atrás, recebem com respeito três pessoas, que se acomodam com mais conforto que na maioria dos modelos equivalentes. Para comparar: o Logan tem 2,63 metros de entre-eixos (o Toyota Corolla tem 2,6 metros) e 1,74 metro de largura (1 cm a menos que o Honda Civic). E ponto para a Renault: na unidade testada havia três apoios de cabeça traseiros -- item de segurança e, ao mesmo tempo, "propaganda" do espaço interno.
Outro ponto a favor do Logan é a visibilidade à frente. O motorista se sente praticamente "em cima" da via -- o capô relativamente curto favorece tal impressão. Mas os retrovisores laterais, pequenos, são muito ruins. E assim adentramos o terreno das restrições ao Logan.
A maior parte delas, é bom que se diga, refere-se ao design, ao acabamento e ao funcionamento de alguns instrumentos. Vale lembrar que, tendo sua origem numa fábrica da Romênia (a Dacia, hoje pertencente à Renault), um dos países mais atrasados do ex-bloco socialista do Leste Europeu, apenas recentemente admitido na União Européia, talvez o Logan nem possa, de nascença, oferecer muita coisa nesses quesitos.
TUDO TEM DOIS LADOS |
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MUITO, MUITO BOM: O propulsor Hi-Torque 1.6 8V, alimentado com álcool, é forte |
MUITO, MUITO RUIM: Painel oferece uma única luz de direção para os dois sentidos |
Por dentro, há peculiaridades irritantes, cujo maior exemplo é o indicador de seta único para as duas direções. Também para "racionalizar" as fiações elétricas, os comandos são instalados ao centro: os das janelas ficam no console (sem função one-touch), o dos retrovisores sob a alavanca do freio de mão, difícil e perigoso de manusear com o carro em marcha. O interruptor do desembaçador traseiro não avisa na tecla quando está ligado (ou seja, não acende), e -- detalhe inacreditável -- o lavador do pára-brisa esguicha água, mas não aciona o limpador automaticamente. Tudo isso num carro de mais de R$ 40 mil.
Por fim, o consumo: rodando 65% na cidade e 35% na estrada, o Logan registrou média de 6,05 km/litro (álcool). Ruim, como ocorre com vários outros modelos 1.6 abastecidos com o combustível vegetal.
Mas cabe aqui um palpite: nada vai parar o Logan. O tal apelo racional desse carro, bem calçado no desempenho e no espaço interno (nem tanto no preço e no consumo), parece capaz de atropelar suas deficiências, que acabarão virando assunto de boteco: "Pois é, o Logan é engraçado. Os caras da Renault economizaram até nas luzinhas. Mas o bicho anda bem e, na hora de ir para casa, dá para levar todo mundo dessa mesa". As vendas nos próximos meses poderão confirmar isso.
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